Deito mais cedo para ver se este dia maldito termina de queimar mais rápido. Deito mais cedo e cerro os olhos com força para ver se estas malditas horas que faltam para hoje virar amanhã não me findam de vez. A verdade é que o fim nunca o é de fato. É sempre um fim de mim que nunca acaba, que nunca me encerra de vez, que nunca, por deus, nunca finaliza esta dor imensa que berra por dentro de meu peito oco.
Prendo a respiração por cinco segundos a mais apenas para tentar calar o caos eufórico que alastra em minha mente. Um fim de tarde e de vida que não me acalma, por vivo de novo e de novo e mais uma vez um eterno quase acabar.
Só eu sei o quanto quase morro todo dia, e quanto esse quase é maleável e extensível. E, por deus, só eu sei o quanto me dilacero todas as vezes que minha vida se distende um pouco mais, um milímetro a mais e todo o meu eu se rasga, mas não morro – apenas quase.
Mas tudo bem, é mais um dia que vou me segurando em meus próprios pulsos. Amanhã, a vida queira. Amanhã acordo montada no ódio, revertendo-o em um motor impulsionador para recomeçar, para ser o que tenho almejado mas não sou, nunca sou, nunca fui.
Matei o amor e só me resta essa raiva incomensurável de ser o que, justo a mim, restou-me ser. Não sei, ao certo, se sou. Mas todos os dias esse meu eu me fere, mata-me sem nunca me dar fim. Então, sem amor e sem fé, resta-me seguir odiando e transformando toda essa ira que eclode em mim em um novo eu.
Amanhã.